terça-feira, 14 de outubro de 2014

Lembranças, sonhos e saudades


Quantos momentos, uma cama pode guardar?
E duas, juntas, quantas histórias nossas teriam para contar?

Teve a primeira noite, onde eu mal ouvia os carros, já que o bater apressado do teu coração me serviu de cantiga de ninar. As manhãs em que a cama fez as vezes de tatame e deu lugar a lutinhas desengonçadas onde as risadas cresceram para gargalhadas e se transformaram em falta de ar. Teve aquela em que nossos corpos quentes dispensaram os cobertores e escondemos segredos por debaixo do colchão. Teve aquela vez em que eu fui tua pela primeira vez, com a respiração pesada e o corpo tenso. Teve a noite onde a cama de solteiro, serviu para eu, você e os cães; a alegria de ver que na manhã seguinte eles ainda estavam lá. Nas noites em que nossos corpos se permitiram uma dança cega de divisão do espaço, do calor, do carinho.

Hoje tem a saudade, que ocupa a outra metade da cama. Tem a vontade de voltar a me vestir do teu abraço. Encostar cada pedacinho da minha pele na tua e te sentir por completo. Deixar você ser a curva maior da concha, torcendo para no meio da noite acordar morrendo de calor, ou preocupada de teu braço ficar sem circulação. Sussurrar mais uma vez ao teu ouvido, sobre meu amor, sobre a saudade antecipada, sobre a despedida a contragosto. Deito a cabeça, esperando em sonho encontrar você. Peço que o descanso diário, me traga a paz que preciso para esperar. Acordo cheia de lembranças, daquilo que não consigo (e nem quero) esquecer.


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