quarta-feira, 25 de maio de 2011

Muito A Ver

Eu nunca tive muito a ver com ela. Ele nunca fez muito o meu tipo.
Não sei se você entende... Não estou dizendo que ela era estranha, nem feia. Longe disso, na verdade. Olhando pra ela, você percebe que nem teria porque ela ser de outro jeito. Eu só não tinha muito a ver com ela. O caso não é não gostar dele, sabe? É que tudo nele é diferente do meu cara ideal. Os cabelos, os olhos, a boca, as manhas, a voz, a altura, os gostos e até mesmo o tamanho das mãos. Nada nele justificava a primeira aproximação porque ele não era exatamente o meu tipo.
Eu já pensei muito sobre isso, mas eu continuo vendo que não tenho muito a ver com ela. Talvez seja essa mania dela, de acordar durante a noite e não virar o edredon para ficar com a parte mais gelada dele, mesmo no verão. Ou talvez ainda, seja porque ela ache muito blasé assistir filmes de comédia romântica ou atender o telefone só pra ouvir eu dizer que gosto dela. Outro dia, ela nem quis andar de mãos dadas, disse que ela preferia sentir o vento passando entre os dedos. Quis muito entender o porquê de eu o ter escolhido, mas nada fazia muito sentido com ele por perto. Durante o verão eu notava que ele me observava dormindo. Nunca entendi porque, mas eu preferia não me mexer (e por vezes morrer de calor) só para que ele não percebesse que eu sabia desse hábito dele. Eu sempre quis me mostrar forte perante ele. Evitando portanto inúmeras vezes seus convites para assistir comédias românticas, andar de mãos dadas e também suas ligações no meio da noite; eu sabia que era uma estrada sem volta e me apaixonar e criar laços não estava exatamente nos meus planos.

Eu nunca tive muito a ver com ela. Ela é fanática por aquele all star branco de cano baixo, não importa quantas vezes eu tente falar pra ela que ele é feio. No começo, era até difícil a gente ter o que conversar. Falar sobre filmes, livros e até músicas sempre virava um festival antagônico... Eu queria tirar férias e levar ela pra passar uma semana em Londres, no frio. Ela queria fugir do trabalho pra passar uns dias no Havaí, no verão. Ele nunca fez muito meu tipo assim como nunca gostou do meu tênis favorito, aliás o tênis era apenas umas das nossas várias discordâncias. Frio, calor, doce, salgado, longe, perto, sol, chuva, Europa, América do Norte. Nada de semelhante, nenhuma coincidência, nada que fizesse muito o meu tipo.
Ela sabia que eu nunca tive muito a ver com ela, mas ela fingia que não ligava e eu também não. Meu beijo, nunca teve muito a ver com ela. Enquanto eu não queria parar de beijá-la nunca, ela pedia pra eu parar porque ia se atrasar pro trabalho. Eu realmente, não tinha muito a ver com ela. Ela insistia pra eu ficar sem camisa de manhã, quando acordava, e eu sempre tentando me trocar pra trazer o café dela.
Ele sabia que não era o meu tipo, mas fazia de tudo para compensar isso. Por algum tempo eu continuei resistindo aos seus beijos e carinhos, mas eu sabia que não havia mais para onde fugir e que eu nem sequer cogitava essa possibilidade. Quando me dei conta já queria decorar, conhecer e sentir cada centímetro da pele dele, os sonhos, os medos, o brilho dos olhos, seus sorrisos e suas lágrimas. Eu já não sabia mais qual era o meu tipo.

Mesmo não tendo muito a ver com ela, eu e ela temos tudo a ver... Juntos. E pensando bem, até nisso, eu não tenho nada a ver com ela. Enquanto ela gosta de mim, eu teimo em gostar dela.



Esse texto foi mais uma parceiria com o querido Humberto do blog Utopia!

sábado, 7 de maio de 2011

Você sabe e eu sei, mas ainda posso escolher no que acreditar.

Você me encara enquanto me tira do sério com o mais convincente olhar de "fica tranquila, somos bons amigos".
Não entendo porque eu fico assim, deve ser por acreditar em você. Afinal, sei que somos bons amigos. Não sei dizer há quanto tempo, mas sempre me pareceu suficiente. Talvez até para acrescentarmos esse "bons" à definição da nossa amizade. Somos bons juntos, ousaria até dizer ótimos, não há como negar.
Estou perdida em devaneios, mas você continua a me olhar quase como quem quer me acalmar, me alertando do que está por vir. Falamos coisas sem sentido (para variar) e quando vejo seus lábios tocam os meus, por uma fração de segundo e então tudo para. Num ato meio desesperado (como quem tenta se recompor de um tapa na cara), sorrio simpaticamente e ensaio mentalmente o próximo passo. Fugir? Tocar no assunto? Fingir um desmaio? A sensação foi de que fiquei horas correndo atrás de uma resposta, embora não tenha chegado a lugar algum. Não fiquei nem um pouco surpresa quando vi que você parecia saber exatamente o que fazer.
É que você sabe que me tira do sério quando me encara com o mais convincente olhar de "fica tranquila, somos bons amigos".

Sabe? Dessa vez eu não acreditei.