quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A chuva

Faz tempo que não menciono a chuva, nem permito que ela molhe meus cabelos por completo. Tem sujeira nas minhas mãos e eu me acostumei com isso. Eu vou até o quintal, estico as mãos tentando alcançar as gotas. A gente passa tempo demais debaixo do telhado, fugindo daquilo que deveria nos acertar e encharcar por completo. Eu me entrego à chuva e deixo ela molhar, gota após gota, meu cabelo, meu sorriso, meus sonhos e medos.

Caí


Eu sonhei que eu caía, numa velocidade que mal dava para acreditar, do décimo quarto andar de um prédio que nunca havia visto na minha vida. Eu pude ver a vizinha que passava o chá enquanto sua amiga esperava perto ao balcão. No apartamento debaixo estava uma senhorinha, de cabelos mais brancos que nuvens, sorrindo calmamente para um porta retratos. Uns dois andares depois, vi um homem falando no telefone e ele parecia estar chateado, mas não gritava e nem fazia gestos agressivos com as mãos. Pisquei e deixei passar três ou quatro andares, mas abri os olhos a tempo de ver uma criança correr para os braços do pai, que chegava do trabalho. Eu não sentia medo e vi no reflexo que trazia um sorriso no meu rosto, sorriso este que cresceu ao ver que o prédio chegava ao fim enquanto eu imaginava o que aconteceria em seguida.

Faltava pouco para o chão e eu caí em teus braços.

Têm aqueles que chamam paixão de queda e acho que talvez seja isso mesmo, cair sem medo e ver tudo acontecer, sem conseguir interferir nos fatos. Esperando, sorrindo, correndo. Caíndo lentamente, calmamente e com a esperança de que tenha alguém lá para te segurar.