quarta-feira, 20 de março de 2019

sobre ressignificar

Minha perna amoleceu antes de você chegar. Não sabia o que esperar desse encontro e isso me tirou do eixo, mas não podia ser diferente depois de tanto tempo. O abraço acalmou meu corpo e eu achei engraçado como o toque tem isso de ativar a memória e o afeto. Eu acho que no fundo eu só tinha me esquecido ou evitado pensar sobre eu e você. A conversa fluiu decentemente, mas isso nunca foi um problema pra gente. Na sala, no bar e eu com a sensação de que o tempo longe tinha sido só uma invenção minha. Só que ele de fato existiu, apesar de não mudar tudo. A amizade flutuava entre os ambientes mesmo sabendo que tinha mais por vir. Meus cabelos entre os teus dedos, tua cara tão perto da minha e o reconhecimento lento da pele na pele. Você não quis ir, eu quis que você ficasse e aceitamos entre carinhos que queríamos mais. Quase como se essa noite pudesse invalidar o que deu errado lá atrás. Eu me permiti confiar em você mais uma vez e entreguei em tuas mãos o meu prazer. Me senti segura, a confiança vibrando entre os lençóis e os gemidos. Novos hábitos e velhas manias. Teus olhos nos meus procurando aquela de anos atrás e um encantamento de conhecer quem eu sou agora.  

Minha perna amoleceu quando você se foi. Te olhei lá longe e comecei a me acostumar mais uma vez com a distância. Não foi um adeus definitivo, tinha a calma de vidas que se cruzam como em tantos outros momentos. Sabendo que desta vez estamos de bem, aceitando as novas vivências, pessoas e o nosso novo jeito de coexistir. Nada nem ninguém pode mudar o carinho que tem nessa nossa troca, hoje eu sei.